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Castro Marim

O sítio arqueológico do Castelo de Castro Marim localiza-se no distrito de Faro, Concelho de Castro Marim, e as suas coordenadas hectométricas, lidas na Carta Militar Portuguesa que o abrange, são as seguintes (folha 611): X. 261.2 e Y. 28.4. O concelho de Castro Marim situa-se na zona Este da região algarvia, a nordeste da cidade de Faro (51km) e de Vila Real de Santo António (3km), junto à fronteira espanhola, Andaluzia.. Este concelho ocupa uma área de 300 km2.

O castelo medieval situa-se na margem direita do Rio Guadiana, muito próximo da sua foz; actualmente, está rodeado de sapais que são o testemunho da extensão que o rio teria tido em épocas recuadas.É sabido que ainda no século XVI a área do Castelo de Castro Marim era uma Península, ligada à terra apenas por estreita faixa que partia da sua vertente Oeste.

O topónimo Baesuris está resistado no itinerário de Antonino, nome que também consta nas cunhagens do período republicano.

Foi possível verificar a existência de quatro fases de ocupação da Idade do Ferro, sendo que destas, a fase II é a mais antiga. A fase I corresponde à ocupação do sítio durante o Bronze Final, da qual restam parcos testemunhos, sem qualquer tipo de expressão arquitectónica. As fases II e III correspondem à ocupação da I Idade do Ferro.

A caracterização desta fase II está muito dificultada pela escassez e mau estado de conservação dos vestígios arquitectónicos, que surgem dispersos pela área de escavação e amplamente truncados.
Na fase III, a estruturação dos edifícios corresponde a uma concepção construtiva predefinida, condicionada sobretudo pela topografia do terreno. Pode verificar-se que alguns dos edifícios sofreram remodelações pontuais, que, no entanto, não desvirtuaram, significativamente, a sua configuração original.

As evidências arquitectónicas desta fase conservavam-se em duas áreas edificadas distintas, com orientações também elas diferentes. O conjunto de compartimentos mais próximo do limite da colina orientava-se no sentido Noroeste/Sudeste, de forma a melhor aproveitar o espaço disponível para a construção.

A fase IV é o momento de ocupação da Idade do Ferro cujos vestígios arquitectónicos se conservam em maior extensão e na qual se identificaram maior número de compartimentos. O espaço organiza-se em torno de arruamentos que funcionam como elementos estruturantes da distribuição interna dos edifícios.

Nesta fase, mais uma vez se constata que as construções mais próximas do limite da colina têm uma orientação distinta das demais áreas edificadas. Em relação a estes compartimentos, será ainda curioso notar que o espaço é aproveitado de forma muito semelhante ao da fase III, coincidindo até no número de divisões. Tal como já tínhamos avançado para a fase anterior, o recurso a esta opção parece ter em conta a topografia da colina.
Estes três compartimentos parecem pertencer a um único edifício, que ao longo da sua utilização assistiu à construção de vários equipamentos domésticos. Com efeito, em todos os compartimentos foram construídas estruturas que se adossavam às paredes e que poderiam funcionar como elementos de apoio a qualquer actividade que aí se desenvolvesse. Todos os pisos documentados eram de argila e surgiam frequentemente associados a lareiras.

As poucas construções relativas à fase II que se identificaram erguem-se directamente sobre o substrato rochoso, adaptando-se à sua irregularidade. A escavação destas realidades foi também constrangida pelo espaço, uma vez que se decidiu, sempre que possível, conservar as evidências arquitectónicas das fases posteriores.

Na zona central da escavação, identificaram-se vestígios de uma área edificada, orientada no sentido E-O, da qual foi apenas possível levantar uma planta muito parcial. Apesar dos muros se encontrarem bastante destruídos, verificou-se que eram consideravelmente mais largos do que os das fases subsequentes, oscilando entre 1 metro e os 70 cm de largura. A construção deste edifício implicou, pelo menos numa das paredes, a realização de um corte na rocha para a implantação das fundações, documentando uma técnica pouco comum nas edificações da Idade do Ferro em Castro Marim.

Planta do total das estruturas identificadas no Sector 1

As evidências arquitectónicas da fase III conservavam-se em duas áreas edificadas distintas, com orientações também elas diferentes. O conjunto de compartimentos mais próximo do limite da colina orientava-se no sentido Noroeste/Sudeste, de forma a melhor aproveitar o espaço disponível para a construção. A tendência observada é a disposição dos compartimentos feita seguindo o contorno da colina.

Trata-se de quatro compartimentos anexos entre si, que deveriam corresponder a um único edifício. No compartimento 1, documentaram-se algumas características singulares ao nível da construção, tendo em conta que foi o único espaço que forneceu indícios da utilização de tijolos de adobe. Estes, com cerca de 30 cm de largura por 10 cm de altura, encontravam-se sobre um alicerce de pedras, em duas "colunas" distintas. A disposição destas construções em adobe sugere que esta poderia ser uma zona de entrada. Posteriormente ao seu momento de ocupação, estes compartimentos foram abundantemente entulhados com pedra de pequena dimensão, sugerindo uma provável utilização como estruturas maciças. Em frente ao compartimento 1, desenvolvia-se um espaço exíguo, limitado a sul por uma estrutura que apenas conservava uma das suas faces.

Na área central da escavação, pôs-se a descoberto um conjunto de compartimentos, orientados no sentido Este/Oeste, cuja leitura global é dificultada pelo seu mau estado de conservação. Os compartimentos 6, 7, 10 e 11 pertencem, provavelmente, a um mesmo edifício, cuja planta total, bem como a comunicação entre si não é perceptível.

O compartimento 11 tem cerca de 8m de comprimento, distinguindo-se dos restantes pela sua construção cuidada e pela existência de uma peculiar estrutura no seu interior, delimitada por blocos de pedra que lhe conferem uma forma quadrangular, com cerca de 1m de lado. Esta última era, aparentemente, rebocada na sua totalidade por rocha moída esbranquiçada e possuía na sua zona central uma camada de argila vermelha onde afloram alguns fragmentos cerâmicos. No seu lado Este, possui uma espécie de cabeceira, que se eleva do piso de argila vermelha cerca de 20 cm e cuja fase interna mostrava sinais da acção do fogo. Também a "cabeceira" seria originalmente coberta pela mesma rocha moída. Este compartimento conservava ainda vestígios de reboco na parede e no rodapé interno.

A Oeste deste espaço delimitou-se a denominada área 7, cuja articulação com os compartimentos 10 e 11 é de difícil compreensão, devido ao seu estado parcelar de conservação. Denota-se uma particularidade construtiva no que diz respeito à parede Oeste deste espaço, que possui uma largura muito reduzida. Foi possível delimitar no interior da área 7 uma sucessão de vários momentos de ocupação, consubstanciados em dois pisos de rocha moída esbranquiçada e uma lareira.

O compartimento 10 constitui o melhor exemplo, em termos arquitectónicos, desta fase de ocupação de Castro Marim. Apresenta grandes dimensões (7m de comprimento por 4m de largura), possuindo, no seu momento inicial de ocupação, um piso de rocha moída esbranquiçada associado a uma zona de combustão de forma circular. Posteriormente, foi construída no seu interior uma estrutura maciça de forma rectangular que, apesar da sua utilização ser limitada no tempo, esteve em funcionamento com vários pisos de argila ou rocha desagregada.

O compartimento 6 encontra-se bastante truncado, em consequência da construção do edifício religioso de época moderna. Nas zonas não afectadas por esta construção foi possível verificar a existência de um pavimento de conchas, que ocuparia, provavelmente, toda a extensão deste espaço. Em algumas zonas, as conchas foram alinhadas, enquanto outras evidenciavam uma disposição aleatória. Este piso foi construído sobre uma estrato de pequenos seixos rolados, do qual temos evidência mesmo nas zonas onde as conchas já não estão presentes. Este compartimento revela também evidências do uso de reboco na face interna da parede Oeste. O reboco de argila alaranjada encontrava-se em clara associação com o piso de conchas, bem como com os finos pisos de argila que se sobreponham a este. O acesso a este espaço realizava-se através da zona que configuraria a sua esquina Este, onde foram colocadas grandes pedras aplanadas no topo de forma a facilitar a comunicação com a área 9, situada a cota altimétrica inferior. Para a construção deste acesso reutilizou-se o alicerce de uma estrutura da fase anterior.

A área 9 constitui-se como uma zona de passagem entre o compartimento 10 e uma outra área compartimentada a Sul. As evidências arqueológicas apontam no sentido de, também aqui, ter existido um pavimento de conchas, do qual apenas restam os estratos relativos à sua destruição. Verificou-se que este espaço foi sujeito a uma remodelação em que, simultaneamente, se construíram dois novos compartimentos a Sul, 5 e 8, tendo o compartimento 10 diminuído de dimensão.

O espaço entre a área edificada mais próxima da encosta e a imediatamente a Sul, parece corresponder a uma extensa zona de passagem, sem cobertura, com um piso de conchas e pedras dispersas aleatoriamente no terreno.

Ainda nesta fase, documentaram-se dois fornos que não se encontram associados a quaisquer construções. Ambos eram de planta circular e de construção simples: a partir de uma base de argila desenvolviam-se as paredes realizadas com a mesma matéria-prima. O forno de maiores dimensões, com cerca de 1m de diâmetro, conservava ainda uma coroa de pedras exterior que sugeria que a sua abertura seria a Sul. O exemplar mais pequeno, com 80 cm de diâmetro, abria-se a Oeste, estando a abertura indicada por um grande seixo rolado. A escavação dos estratos associados a estas estruturas revelou uma grande quantidade de restos faunísticos queimados e bastante fragmentados.

Associada ao forno menor, era visível uma outra estrutura de tendência circular, cujas características construtivas a tornam singular, e que se conservava em apenas fl do que seria o seu tamanho original. A base estava construída com pedras de grande dimensão, mas a calibragem destas era menor à medida que a parede subia em altura. O interior desta parede era preenchido por pedra seca à qual se sobrepunha uma camada de conchas de ostra ligadas por argila vermelha compacta. Ambos os enchimentos mostravam evidências de combustão.

O espólio da Idade do Ferro recolhido nas intervenções arqueológicas do Castelo de Castro Marim apresenta uma significativa variedade e ampla diacronia. Domina, em todas as épocas, o material cerâmico, sendo de destacar o excelente estado de conservação da grande maioria dos materiais da Idade do Ferro e da época romana. Quanto aos primeiros, destaca-se a cerâmica grega e as ânforas, bem como um conjunto apreciável de cossoiros e contas de colar, sendo também abundante a designada cerâmica comum, que inclui a cerâmica cinzenta.




Compartimentos do Sector 1, associados ás fases III e IV